A audácia de intervir foi uma das características marcantes de António Batalha. Com base numa consciência profunda do seu compromisso social, tomou várias iniciativas de enviar comunicações a figuras com especiais responsabilidades na Igreja e no Estado.
Por exemplo, em Outubro de 2005, enviou uma carta aos Bispos Portugueses (livro «Décima Onda às Setenta e Seis Milhas», edição da Fundação João XXIII/Casa do Oeste, págs. 263-265). Aí chama a atenção para alguns problemas, e apresenta algumas propostas. Propõe, nomeadamente, em relação à pastoral da juventude, que sejam renovadas as Estruturas Nacionais e Diocesanas, criados grupos nas paróquias em todo o País onde ainda não existem. Dêem-lhes o nome que quiserem e que achem por bem mas, por amor de Deus, organizem a juventude, salvem a juventude».
Alguns de nós perguntamo-nos se acompanhámos suficientemente o A. Batalha neste esforço militante de intervenção social. Apreciámos e estimulámos as suas iniciativas, mas talvez não as tenhamos ponderado nem subscrito tanto quanto mereciam.
O A. Batalha intuíu que uma vertente indispensável da intervenção social dos cristãos consiste na análise dos problemas, na sua leitura crítica, na emissão de pareceres e na formulação de propostas. Cada grupo da ACR ou de acção social, em articulação com as direcções ou equipas diocesanas, deveria realizar sistematicamente este trabalho. O envolvimento de um maior número de grupos e pessoas poderia contribuir para que os textos se apresentassem com mais consistência e representatividade.
O Núcleo de Diálogo Social (Torres Vedras), do qual o A. Batalha era membro, levou a sério esta linha de acção e, provavavelmente, dar-lhe-á concretização mais ou menos sistemática. Importa resistir à tentação de a considerar inútil ou irrealista, especialmente com base no facto de não ser eficaz e se limitar a aumentar a avalanche de palavras. Ao contrário da demissão perante os problemas, vale a pena estudar os diferentes assuntos, procurar consensos alargados, apresentar propostas fundamentadas perante as entidades competentes, e continuar a insistir sempre, até ao momento em que sejam tomadas as medidas propostas ou esclarecidos os motivos que justifiquem a sua não adopção.
Existem perspectivas de a ACR e a Cáritas Diocesana de Lisboa passarem a cooperar estreitamente na acção social. Por essa via, tomarão conhecimento mais preciso dos diferentes casos e problemas sociais, desenvolverão actividades conjuntas para as respectivas soluções e poderão intervir, em conjunto, perante as entidades políticas, ou outras, competentes, formulando as propostas consideradas necessárias.
Acácio F. Catarino