A Sustentabilidade da Crise

Janeiro 22, 2009

sustentabilidadeÉ tristemente notório que a economia portuguesa se distingue, no quadro europeu, por viver em crise permanente: porque estamos sempre em contra-ciclo e porque, ocorrendo coincidência de fases, o efeito é o de somar às nossas crónicas dificuldades os efeitos das dificuldades alheias. A mediática plateia doméstica dos preclaros analistas,  mentes luminosas na sua maioria instaladas na tranquila gestão de monopólios ou apenas
executivos avulsos de negócios globais,  surge de vez em quando para debitar sabedoria de catálogo, expressa em banalidades macro-económicas que toda a gente conhece. Não resolvem nem ajudam a resolver coisa nenhuma da economia real: porque essa não é a sua realidade e preocupação e, acontecendo esporadicamente sê-lo em algum caso, lhes falta normalmente a competência onde lhes sobram jactância e presunção.

É claro que a nossa situação não foi sempre esta, sendo forçoso e urgente detectar as causas que nos conduziram à aparente condenação de pobres tolerados num mundo de ricos aparentes. Uma nação que titulou projectos de alcance universal, que acompanhou, na vanguarda da cultura e da tecnologia, os movimentos sociais, políticos e económicos que, ao longo dos séculos, conformaram o mundo, escravizaram e libertaram homens,
criaram raças, forjaram nações, há-de guardar no património vivo das suas tragédias e glórias a mesma energia, o mesmo impulso criativo! Porquê, então, esta modorra descrente, este letargo doentio e trágico, esta apatia mortal em que parece mergulhada a velha nação portuguesa?!

José Guia

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«Um outro olhar» -POBREZA, SEGUNDO MENSAGEM PAPAL

Janeiro 8, 2009

dia-internacional-pazA Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro) intitulava-se «combater a pobreza, construir a paz». O documento começa por esclarecer que a pobreza não é só de ordem material, mas também «relacional, moral e espiritual». E salienta, nela, as seguintes dimensões: a) – os mal-entendidos sobre o crescimento da população; b) – as pandemias (como a malária, a tuberculose e a SIDA); c) – a pobreza das crianças; d) – as consequências negativas da corrida ao armamento; e) – e a crise alimentar,  agravando as situações das pessoas e dos povos mais pobres. Depois, a Mensagem expõe algumas «estradas mestras», ou linhas de acção, necessárias: a) – a «solidariedade global» e a redução das desigualdades, como alternativa à globalização egoísta; b) – a regulação do «comércio internacional e das transacções financeiras»; c) – uma cooperação internacional não «vincadamente assistencialista» e não só distributiva, mas também promotora da formação, da iniciativa e do trabalho das pessoas e dos povos mais pobres; d) – e atribuição de toda a prioridade aos pobres e à acção da sociedade civil, a par do Estado e do mercado. O documento realça o «amor preferencial pelos pobres» que, para os cristãos, deverá ser visto «à luz do primado da caridade testemunhado por toda a comunidade cristã a partir dos primórdios da Igreja». Recomenda que a «Comunidade Cristã» dê «o seu apoio à família humana inteira nos seus impulsos de solidariedade criativa, tendentes não só a partilhar o supérfluo, mas sobretudo  a alterar os «estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades» (João Paulo II, «Centesimus Annus», nº. 58).

Como bem se compreende, a Mensagem papal não aborda a questão da governabilidade para que sejam tidas em conta as suas propostas; estas, aliás e em geral, têm sido defendidas, felizmente, por muitas outras entidades. Também não explicita os tipos de organização e de acção recomendáveis para que os cristãos concretizem as orientações preconizadas. Isso depende, naturalmente, de cada um, dos seus grupos e instituições, bem como das paróquias, das dioceses e das estruturas de âmbito nacional e internacional. Entretano, D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, adianta algumas hipóteses de concretização, num texto difundido como comentário à Mensagem. Sublinho a proposta de multiplicação de «grupos de reflexão criadores de nova mentalidade» e promotores de intervenção social.

Na linha desta recomendação, parece recomendável que os grupos promovam: a) – a análise dos problemas das respectivas localidades; b) – o confronto entre esses problemas e as possibilidades de solução; c) – iniciativas tendentes às respostas necessárias; d) – e a participação na vida colectiva. Enquanto isto não acontecer, é muito discutível que os cristãos estejam à altura das responsabilidades…

Acácio F. Catarino