É tristemente notório que a economia portuguesa se distingue, no quadro europeu, por viver em crise permanente: porque estamos sempre em contra-ciclo e porque, ocorrendo coincidência de fases, o efeito é o de somar às nossas crónicas dificuldades os efeitos das dificuldades alheias. A mediática plateia doméstica dos preclaros analistas, mentes luminosas na sua maioria instaladas na tranquila gestão de monopólios ou apenas
executivos avulsos de negócios globais, surge de vez em quando para debitar sabedoria de catálogo, expressa em banalidades macro-económicas que toda a gente conhece. Não resolvem nem ajudam a resolver coisa nenhuma da economia real: porque essa não é a sua realidade e preocupação e, acontecendo esporadicamente sê-lo em algum caso, lhes falta normalmente a competência onde lhes sobram jactância e presunção.
É claro que a nossa situação não foi sempre esta, sendo forçoso e urgente detectar as causas que nos conduziram à aparente condenação de pobres tolerados num mundo de ricos aparentes. Uma nação que titulou projectos de alcance universal, que acompanhou, na vanguarda da cultura e da tecnologia, os movimentos sociais, políticos e económicos que, ao longo dos séculos, conformaram o mundo, escravizaram e libertaram homens,
criaram raças, forjaram nações, há-de guardar no património vivo das suas tragédias e glórias a mesma energia, o mesmo impulso criativo! Porquê, então, esta modorra descrente, este letargo doentio e trágico, esta apatia mortal em que parece mergulhada a velha nação portuguesa?!
José Guia